Há uma gravação do Raul em que ele fala: “Agora é necessário. Gritar e cantar Rock” e eu realmente entendo isso. Raul viveu em uma época onde era preciso GRITAR e CANTAR ROCK para ser ouvido. Raul viveu essa época intensamente.
Há, uma outra gravação, desta vez do Cazuza, em que ele fala algo como: Foi preciso. Era como se ele deixa-se claro que ele precisava usar a droga para ser ouvido, ela preciso sair do normal para mostrar, no caso do Cazuza escancarar, que poderia ser diferente. Que havia uma outra maneira de ser e, para isso, ele foi intenso.
Renato Russo, o monstro da Legião Urbana, talvez o maior poeta que eu já ouvi, viveu de forma tão intensa, mas tão intensa que o palco, a legião, era pequena demais para ele, foi preciso, em alguns momentos, até fazer voos solos.
Cassia Eller é outro mito para mim, foi talvez a primeira mulher que assumiu a sua sexualidade e vida de uma forma que me traz inveja. Ela viveu intensamente.
Há diversos outros casos, de pessoas que vivem intensamente e que marcam uma geração, Chorão foi um deles. Viveu “intensamente”.
O que me deixa chateado, no caso do Chorão, não é a morte dele, é justamente o fato da escolha.
Nos anos 80, talvez, não tínhamos a noção que temos hoje sobre o risco que se tem quando se consume drogas, etc. Nos anos 80 o cigarro, por exemplo, era sinal de status social. Hoje eu não vejo sentido algum em uma pessoa fumar. Acho um absurdo de uma pessoa que conhece todos os riscos do cigarro, colocar uma piteira de narguilé na boca por exemplo.
Não estou falando que ele merecia morrer, só estou falando que é o caminho natural e que, infelizmente, há muitas pessoas que ainda vão percorrer esse caminho. Isso me deixa triste.
Sobre o Chorão, vou usar um outro cara, para falar dele:
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder.
Não sei se ele morreu de overdose, talvez não…
Mas, mesmo assim, acho que essa música nunca fez tanto sentido quando ela faz hoje e a pergunta que fica é:
Até quando meus herois vão morrer de overdose?