Li em um texto do Luiz Fernando Verissimo (Seios e Rembrandts) que atualmente (uso a palavra mesmo indo de encontro ao bom senso da escrita, afinal quando é atualmente?) as mulheres já consideram natural o uso de próteses de silicone, seja nos seios, nos lábios, na bunda ou onde Deus não quis, o uso deste artifício é, contraditoriamente, natural.
Li, ainda, um texto do Mario Sergio Cortella (“Não Nascemos Prontos”) em que ele comenta sobre o fato de não nascermos prontos, o autor tenta explicar que nós nos construímos: “Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo” achei divina essa idéia, por isso de hoje em diante não perguntarei mais, o que você está fazendo, mas sim, como você está se fazendo?
Isto posto, fiquei maravilhado com as semelhanças de idéias. Literalmente as pessoas estão se fazendo, se construindo pois:
Filosoficamente: a cada instante você é um ser novo, com novas idéias novos pensamentos. Você renasce a cada instante “O mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no meu presente” (Cortella novamente).
Naturalmente: A cada vez que você nasce, ou melhor renasce, nasce também uma ruga. Novas idéias e novos pensamentos trazem cabelos brancos e a gravidade fica mais forte a cada ano que passa.
O problema de ficar filosoficamente mais novo, ou naturalmente mais velho, está no fato que o corpo não acompanha a mente, enquanto o corpo fica velho, fraco, cansado, a mente se renova, se refaz, somos um sujeito ano 2014 modelo data de nascimento e “competimos” com outros sujeitos 2014 mas modelos 10, 20 ou 30 anos mais novos e isso pode ser um problema.
Para essa luta, filosoficamente e naturalmente desigual, usamos as armas que temos, aquelas que possuímos e, muitas vezes, as que nossa renda nos deixa possuir.
Oras, podemos dar um jeito nessa gravidade chata, nada que um com cartão de crédito não resolva, os cabelos brancos? Muito mais barato, e fácil, de se resolver, já as rugas podem ser mais chatas, mas temos o Botox, se ainda assim a coisa não funcionar, o viagra resolve pois um tapa nos cabelos tingidos, um óculos para esconder a marca do botox e estamos prontos para a luta, quer seja ela por parceiros ou parceiras quer seja ela por empregos.
É comum o uso de Justificativas como: “… quero envelhecer bonito, sem rugas..”, “… não tenho cabelos brancos, pinto todos para ficar bonito”. Oras, desde quando é feio ter rugas? Qual o problema dos cabelos brancos? Eu, particularmente, acho lindo a aparência do velho, mesmo detestando pessoas que estão mentalmente velhas, aquelas que, por exemplo, têm 30 anos e não mudam desde os 15 continuam com as mesmas idéias, sonhos, experiências e desejos.
Você não acredita? Acha exagero meu? Vá à uma festa, olha bem o comportamento dos “adultos”, dançam na boquinha da garrafa, rebolam com o tcham, azaram as menininhas e menininhos mais novos e quando toca Xuxa então? É uma festa.
E os jovens? Geralmente não ficam atrás nessa competição, usam as suas armas, fazem cara de conteúdo, idolatram ídolos do passado, outro dia vi uma guria de 15 anos falando da maravilhosa voz da Elis Regina de como ela encantava o público quando cantava, pô eu tenho trinta anos e não conheço a voz da dita cuja. Compram livros, decoram partes de poemas, usam jargões, às vezes ate os nossos jargões: “No meu tempo não era assim”, esquecem as bonecas e os carrinhos cada vez mais cedo e, cada vez mais cedo ainda, começam a namorar.
Certa fez uma aluna me recitou um poema de Fernando Pessoa, Autopsicografia, e fiquei encantado porque amo Fernando Pessoa e perguntei se ela sabia algum outro poema, ela respondeu: “Não, só decorei esse, pois achei legal”
Não sei bem, mas acho que essa competição não faz bem a nenhum dos dois, e será que não estamos buscando o falso? O falso seio, o falso ídolo?
Por que fazemos isso? Para competir? Por medo de ficarmos “velhos” e não sermos aceitos na sociedade? Medo de ficar velho se o meu mais novo eu é agora?
Na verdade não sei a resposta e não esperava que a soubesse, talvez, quando eu for mais novo eu entenda e conte para meus netos, filhos, etc. Por enquanto decidi que quero ser aparentemente velho, não vou lutar contra os efeitos do tempo, não vou mentir para o meu espelho e, se tudo funcionar direitinho, prometo que nem viagra eu tomo.