Todo final de ano faço aquela avaliação geral, aquele balanço do que é bom e do que é ruim, ou do que foi bom, do que foi ruim e, inevitavelmente, começo por aquilo que realizei. Vejo tudo de novo que construí naquele ano, tudo que lutei, tudo que suei para fazer e que, graças ao meu suor, consegui realizar.
E, no ano de 2014, forçadamente comecei minha reflexão, por porque faço isso? Porque meço o meu sucesso por aquilo que conquistei? Automaticamente, vem apenas uma explicação em minha cabeça:
“Cada mente é dotada também de potencial de mentira para si próprio (self-deception), que é fonte permanente de erros e de ilusões. O egocentrismo, a necessidade de autojustificativa, a tendência a projetar sobre o outro a causa do mal fazem com que cada um minta para si próprio, sem detectar esta mentira da qual, contudo, é o autor.” (Edgar Morin)
É obvio que, ao iniciar o balanço por aquilo que você conquistou, pela faculdade que você entrou, pela prova que você passou, pela namoro que você se envolveu, pelo serviço que você conseguiu, vai fazer de você um herói. São todos sucessos. São todas maneira de falar para você mesmo:
– Viu, parabéns, você está no caminho certo. – É, fatalmente, uma forma de self-deception.
Ai vem a pergunta, vamos fazer o contrário então? Vamos começar o balanço por aquilo que ficou para trás? Aquilo que se perdeu durante o ano? Não. Absolutamente não.
Fazer isso será o outro lado do mesmo erro, será tão errado e cruel quanto o erro anterior.
Começar um balanço levando em conta o que deu errado, vai apenas fazer de você uma pessoa que perdeu. Um perdedor. Alguém que fatalmente vai falar: “Que 2015 seja melhor que 2014, pois esse ano, meu deus.”
Então o que fazer? Fazer duas listas e colocar na balança? Ver o que teve mais em 2014, acertos ou erros? Como posso saber se tive um bom ano? Como saber se 2014 foi, realmente um bom ano?
É justamente ai onde acredito que está o perigo. 2014 bom? 2013 fraco? 2012 espetacular? Oras, anos são bons ou ruins? Anos são melhores ou piores?
Somos nós, não é o nosso 2014 que foi bom ou ruim, fomos nós. Nós que como humanos e humanas fizemos do nosso tempo algo maravilhoso, algo mágico ou algo podre, terrível.
Você falar: “Eu só espero que 2014 acabe logo, que venha 2015.” Ou “Tomara que 2015 seja igual 2014. Melhor ano da minha vida.” Ou qualquer coisa do gênero, é apenas mais uma mentira que você estará contando para si mesmo. Você não precisa disso.
Olha, garanto a você, que o seu Papai Noel interno, (aquele que julga se você foi um bom menino ou menina em 2014 para lhe dar um presentinho) vai ficar mais feliz, quando, ao perguntar para você como foi o seu 2014. Você apenas responder: 2014 eu não sei, mas eu vivi cheio de altos e baixos e não me importa se mais altos que baixos ou mais baixos que altos. Apenas vivi da minha maneira.
E sobre um 2014 mágico ou podre? Você pode parafrasear o velho sábio:
Assim como todos que vivem tempos como esse! Mas não cabe a eles decidir… O que nós cabe é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado… Há outras forças em andamento nesse mundo além das forças do mal… Mesmo a menor das criaturas pode mudar o curso do futuro… (Gandalf)